RoboCop: Rogue City é o mais recente título do estúdio Teyon e que nos traz de volta um dos personagens mais míticos dos finais dos anos 80. Mas conseguira o jogo fazer uma justa homenagem aos legado de RoboCop ?
Para os mais distraídos, o RoboCop é uma personagem mítica criada no final dos anos 80, e que conheceu a luz no dia no filme com o mesmo nome lançado em 1988. Trata-se de um clássico do cinema dos anos 80 repleto de ação e com muito humor negro à mistura.
Decorrido alguns anos de ausência, RoboCop regressou à ribalta, desta vez através de um vídeo jogo desenvolvido pela Teyon que foi o estúdio responsável pelo Terminator Resistance lançado em 2019.
Quem conhece Terminator Resistance sabe o trabalho e respeito que a Teyon teve pelos filmes originais. Em RoboCop: Rogue City acontece exatamente o mesmo.
RoboCop: Rogue City é um jogo que acima de tudo revela uma enorme consideração do estúdio pelo material de origem. São inúmeras as referências aos filmes que passam por pormenores mais ou menos subtis, e que os fãs dos filmes irão facilmente reconhecer.
Não há maior referência aos filmes do que o facto de a voz do nosso personagem ser narrada por Peter Weller, o ator que fez de RoboCop nos filmes lançados nos anos 80-90.
A atenção ao pormenor neste jogo é enorme e um dos maiores exemplos disso é a esquadra de polícia de Detroit que o nosso personagem pertence. Parece uma réplica bastante fiel à encontrada nos filmes, contando com os personagens principais como a companheira de equipa Anne Lewis, Sargento Reed entre muitas outras.
História em seguimento com os filmes
RoboCop: Rogue City acontece depois dos eventos do segundo filme. Detroit vive tempos complicados assolada pela crime provocado por uma nova droga (Nuke). Para piorar a situação existe um novo líder do crime organizado (New Guy) que assumiu todo o negócio de distribuição da nova droga.
Este novo personagem, cujas semelhanças com Hans Gruber de Die Hard dificilmente são uma coincidência, será o arqui-inimigo de RoboCop durante o jogo.
Se a cidade de Detroit luta contra uma onda de crime nunca antes, o nosso personagem enfrenta uma crise de identidade, que é explorada durante o jogo. Cabe ao jogador optar se pretende que o seu personagem tenha um lado mais ou humano, ou se, por outro lado, assume uma faceta 100% máquina.
Outra das grandes referências trazidas dos filmes para o jogo é a presença da OCP (Omni Consumer Products) que continua com intenções de acabar com a polícia de Detroit, substituindo-a pelos seus robôs.
Por falar em robôs‘stress’, não será grande surpresa revelar que o assustador ED-209 marca presença no jogo. A sua existência tem particular importância no primeiro filme. No jogo existe um throwback ao filme, tendo sido recreada uma das situações mais míticas e aterrorizadoras protagonizadas pelo ED-209 e que gera um nível de ‘stress’ elevado, mesmo a um robô polícia.
Jogabilidade faz-nos sentir no corpo do RoboCop
RoboCop: Rogue City é um FPS (first person shooter). Mas ao contrário de outros FPS, neste jogo o nosso personagem tem uma mobilidade extremamente reduzida, algo que é normal tendo em conta que somos um robô. Acabamos por ter de usar a frase cliché, mas em efetivamente o jogo faz-nos sentir como se fossemos efetivamente o RoboCop.
Além de se deslocar lentamente (comparativamente a outros FPS) o nosso personagem tem poucas/nenhumas ações para se esquivar de balas inimigas. O máximo que conseguimos fazer é colocar-nos atrás de um objeto para nos protegermos. É algo que faz todo o sentido tendo em conta o personagem, que literalmente oferece o corpo às balas. Obviamente que a nossa armadura vai sofrendo dano, mas que pode ser recuperado com recargas OCP (equivalentes a medkits).
Mas RoboCop é mais conhecido pela destruição que causa, e aí não quem o pare. Obviamente que contamos com um arsenal de fogo considerável. No início de cada nível apenas contamos com a nossa famosa AUTO-9. Podemos apanhar outras armas dos nossos inimigos, mas nenhuma consegue transmitir o mesmo prazer do que a AUTO-9. Além disso, esta arma tem munições infinitas ao contrário de outras que podemos apanhar no decorrer do jogo.
A AUTO-9 é sem dúvida a arma da eleição, e conta com uma espécie de árvore de habilidades própria em forma de mini jogo. Com o decorrer do jogo conseguimos encontrar vários chips que permitem alterar as características da arma, tornando-a não só mais poderosa através de um aumento da capacidade do carregador ou do dano provocado, mas também oferecendo-lhe habilidades especiais. Para dar o exemplo, a nossa AUTO-9 tinha uma rajada contínua e um carregador com balas infinitas, ou seja, funcionava como uma metralhadora contínua, dando uma sensação de invencibilidade enquanto tornávamos as ruas de Detroit mais seguras.
Esta árvore de ‘upgrade’ é feita com chips que tem uma percentagem de melhoramento, e que permitem construir caminhos para outros chips. Estes chips são adquiridos no jogo em malas da OCP situadas nos diversos sítios que visitamos.
No entanto o nosso personagem não se limita a eliminar inimigos com balas. Também existe a possibilidade de lhes dar um soco, que os mata instantaneamente, ou simplesmente pode pegar neles e atirá-los contra uma parede, contra outros inimigos ou simplesmente atirá-los bem alto e vê-los em queda livre para um encontro imediato com o chão (esta última hipótese é fez-nos lagar algumas gargalhadas). Também podemos apanhar alguns objetos e atirá-los.
O ambiente que nos rodeia oferece-nos uma variedade de objetos que podemos atirar, e que inclui alguns elementos inflamáveis e explosivos.
Falamos que a AUTO-9 tinha uma árvore de habilidades específica. Isto porque o nosso personagem conta com a sua própria árvore de habilidades onde podemos melhorar vários aspetos, sejam de combate, proteção, dedução, etc. Quando chegamos a um dado nível conseguimos desbloquear habilidades relacionadas com a árvore que estamos a evoluir, que podem passar por mais opções de diálogo, um escudo que durante um limite de tempo reduz o dano, ou termos a habilidade das balas fazerem-nos ricochet e matarem os nossos inimigos, entre muitas outras. Foram muitas as habilidades que, apesar de termos acabado o jogo, não conseguimos desbloquear. A existência de um modo New Game + teria sido uma ideia bastante interessante.
Falamos de alguns exemplos de habilidades que podemos desbloquear, mas a melhor na nossa opinião foi a introdução de uma opção de “bullet time“. Durante uns segundos tudo se mexe em câmara-lenta e que faz todo o sentido no jogo.
Existem no entanto situações específicas onde o bullet time acontece, mesmo sem termos desbloqueado essa habilidade. Isso acontece quando arrombamos uma porta e entramos numa sala normalmente repleta de criminosos. Por norma existem reféns e é preciso ter a destreza necessária de, durante aquele tempo, eliminar os criminosos antes deles executarem os reféns.
Além de FPS, RoboCop: Rogue City tem também uma componente RPG. Existem vários diálogos durante o jogo, e as opções que tomamos interferem na história do jogo. Apesar de não impactar a jogabilidade propriamente dito, as ações que tomamos tem influência de como a história decorre.
RoboCop: Rogue City não se resume no entanto a eliminar inimigos. Por vezes também temos de investigar zonas de crime antes de avançarmos para a captura dos criminosos. Trata-se de um mecanismo relativamente básico, mas que é uma diversificação de jogo que é bem vinda.
Uma das preocupações que tínhamos neste jogo era a possibilidade este se tornar demasiado repetitivo e cansativo passadas algumas poucas horas. A verdade é que tal nunca sucedeu, e sinceramente acabamos o jogo ainda com fome de mais.
Para tal deve-se o facto de existir uma relativa diversidade de inimigos, pelo menos no que diz respeito às suas características. Temos ‘snipers’, ‘kamikazes’, homens de mota, robôs. Existe uma variedade que faz o jogo ficar sempre interessante. Além disso, é difícil de exprimir o quão satisfatório é o combate em RoboCop: Rogue City. O gore no jogo é bastante elevado, tal como os filmes onde se baseia, fazendo que toda a experiência funcione e seja altamente satisfatória. Aliado a isso tudo contamos com uma excelente adaptação ao DualSense, em particular ao feedback háptico dos botões enquanto disparamos a nossa arma.
O jogo acaba por assumir uma jogabilidade linear. Vamos para o sítio da missão, e quando concluída voltamos à esquadra. Este esquema repete-se ao longo do jogo. No entanto, e por norma, os sítios onde estamos têm vários pontos de interesse que merecem ser explorados, e existem muitas missões secundárias por fazer, inclusive na esquadra.
Gráficos alimentados por Unreal Engine 5
RoboCop: Rogue City foi feito no mais recente Unreal Engine 5. E em certas alturas do jogo conseguimos ficar agradavelmente surpreendidos pela qualidade dos cenários e paisagens. No entanto, esta mesma qualidade não se mantém ao longo do jogo.
Rapidamente passamos de uma qualidade gráfica nextgen para oldgen. Existem texturas que deixam um pouco a desejar, assim como algumas animações faciais de alguns personagens secundários.
No entanto, há que elogiar o facto do ambiente ser extremamente destrutível, algo normal de acontecer dado o número de balas que voam durante os confrontos.
O jogo conta com um modo de qualidade e outro de performance. Não conseguimos jogar no modo de qualidade visto este ter graves problemas de otimização. No modo performance não tivemos grandes quebras de frames, e o jogo manteve-se uma frame rate estável.
Também encontrámos alguns ‘bugs’ e ‘glitches’ no jogo. Apesar de não ser nada que estragasse a experiência, a verdade é que acabam por estragar um pouco da imersão. Por vezes também nos deparamos com problemas na mistura de som, onde o volume ou ficava muito alto ou muito baixo.