Dragon Age: The Veilguard oferece-nos um universo visualmente incrível e detalhado, mas adota uma abordagem mais simples e segura, trocando a profundidade narrativa pela ação constante.
Junto com Mass Effect, Dragon Age é uma das séries mais icónicas da BioWare. Os três títulos anteriores (Origins, Dragon Age II e Inquisition) ficaram marcados como referências em storytelling, com narrativas densas e um tom sombrio que nos obrigava a tomar decisões complicadas, muitas vezes com consequências imprevisíveis.
Dez anos depois do lançamento de Inquisition, The Veilguard chega com uma vibe bem diferente. Em vez de decisões difíceis e enredos complexos, temos um jogo mais leve, onde as escolhas do jogador têm pouco impacto e a história segue um trajeto praticamente linear, independentemente dos diálogos ou decisões feitas.
Deuses, dragões e problemas antigos
O enredo começa com um pequeno grupo de aventureiros (onde incluímos o nosso personagem, Rook) que tenta impedir um velho conhecido de Inquisition – o enigmático Solas – de realizar um ritual que liberta demónios e ameaça destruir o mundo. Apesar do sucesso inicial, dois deuses élficos acabam por escapar da prisão onde Solas os havia selado.
A libertação desses deuses élficos é o ponto de partida de The Veilguard. O objetivo? Impedir que o mundo colapse. Mas, como qualquer bom RPG, esta aventura não é uma missão a solo. Ao longo da história, vamos recrutando novos aliados e fortalecendo laços com eles, algo que terá impacto no desfecho final.
Se esta estrutura parece familiar, é porque é mesmo! A mecânica de reunir uma equipa, criar relações e seguir para um combate épico já é marca registada da BioWare, tanto em Dragon Age como em Mass Effect.
A profundidade ficou para trás?
O grande “calcanhar de Aquiles” do jogo é o quão superficial ele pode ser. As decisões que tomamos parecem não ter consequências reais, e muitos conflitos que poderiam ser emocionantes são resolvidos com uma ou duas linhas de diálogo genéricas.
Outro problema é a falta de liberdade para moldar o comportamento de Rook. Existem opções de diálogo que, à primeira vista, parecem agressivas ou assertivas, mas acabam por ser suavizadas no tom final.
Um exemplo? Se escolhes dizer algo como: “Quem é este idiota?”, o jogo transforma isso num inofensivo “Quem és tu?”.
Toda a agressividade e intencionalidade da resposta é perdida e o diálogo flui normalmente sem qualquer tom de conflituoso. E isso acaba por ser o reflexo do nosso personagem, mesmo que não o queiramos, tornando-se um personagem unidimensional e sem grande interesse.
Esta falta de profundidade estraga um pouco a imersão do jogo, pelo menos comparativamente a outros títulos Dragon Age.
Expectativas demasiado altas?
Este é o dilema: será que estamos a ser demasiado críticos porque Dragon Age: The Veilguard carrega o peso do nome Dragon Age? Provavelmente. Afinal, o jogo, apesar dos problemas, é bom – só não está à altura do legado da série.
O que realmente se destaca é o aspeto visual. Os cenários são absolutamente deslumbrantes, com detalhes incríveis e paisagens que nos fazem querer parar para simplesmente apreciar a vista.
A exploração dos mapas é recompensadora, com caminhos escondidos, materiais e loot para descobrir.
A criação de personagem é outro ponto forte. A personalização de Rook oferece opções mais detalhadas do que nunca, permitindo criar um herói único, desenhado à nossa imagem.
Já os restantes personagens têm um aspeto mais cartoonesco, o que até combina com o universo de Dragon Age, mas afeta as animações faciais. Em momentos mais sérios, as expressões por vezes não correspondem ao tom do diálogo, o que pode tirar um pouco da emoção de certas cenas.
Exploração, combate e… repetições
Como já seria de esperar, The Veilguard é um jogo massivo. A narrativa é longa, recheada de personagens e oferece muitas horas de jogo. E claro, pelo caminho há muitos inimigos para enfrentar.
O sistema de combate é uma mistura entre ação e turn-based, semelhante ao que vimos nos últimos Final Fantasy. Podemos alternar entre controlar diretamente Rook e dar ordens aos membros da equipa, escolhendo que ataques ou habilidades usar.
Embora o combate funcione bem e seja visualmente espetacular (principalmente com ataques combinados), falta variedade nos inimigos. A reciclagem de demónios e criaturas torna-se evidente, o que pode levar os jogadores a repetir a mesma build de combate durante grande parte da campanha. Uma maior diversidade de adversários teria tornado as batalhas mais desafiantes e dinâmicas.
Outro ponto que merece crítica é a skill tree. É desnecessariamente extensa e cheia de habilidades pouco relevantes, funcionando mais como um “atalho” para alcançar os talentos mais interessantes.
Desempenho técnico sem falhas
Se há algo em que The Veilguard brilha, é no desempenho técnico. Num mundo tão grande e detalhado, é surpreendente não encontrar bugs ou problemas de performance. Tanto no modo fidelidade como no modo performance, o jogo corre sem soluços, o que merece aplausos.
Uma boa aventura… se ajustares as expectativas
No fundo, Dragon Age: The Veilguard é mais um RPG de ação do que um verdadeiro RPG. As escolhas são tratadas com demasiada leveza e a narrativa evita explorar temas mais sombrios ou arriscar momentos de maior tensão.
Para os fãs hardcore de RPGs, esta abordagem mais “light” pode desiludir alguns. Por outro lado, jogadores que procuram uma experiência visualmente rica, com ação fluida e uma conclusão para a história de Inquisition, vão encontrar muito para apreciar aqui.
Se ajustares as expectativas e não esperares algo ao nível de Origins ou Inquisition, The Veilguard pode ser uma jornada divertida num mundo deslumbrante – mesmo que falte aquele toque especial que tornou os jogos anteriores tão memoráveis.