O apocalipse regressa ao estado do Oregon com Days Gone Remastered, a nova versão para a PlayStation 5 do exclusivo lançado originalmente em 2019. A cargo da Bend Studio — conhecida por Syphon Filter — e com o apoio da Climax Studios esta nova versão aproveita as capacidades da consola de nova geração para trazer melhorias visuais, novas funcionalidades e modos adicionais. Mas a questão impõe-se: será esta remasterização suficiente para conquistar novos jogadores e justificar o regresso para quem já conheceu Deacon St. John?
Uma história de perda, sobrevivência e redenção
Se não chegaram a ler a nossa opinião de 2019, deixamos aqui uma breve introdução à narrativa.
A narrativa de Days Gone centra-se em Deacon St. John, um ex-militar e motoqueiro que tenta sobreviver num mundo destruído por um surto viral. Logo nos primeiros minutos, o jogador é confrontado com uma decisão dramática: Deacon tem de escolher entre salvar a sua mulher, Sarah, ou ficar para ajudar o seu melhor amigo, Boozer. Ao optar por este último, acredita que Sarah está em segurança — até que o destino o surpreende.
É neste cenário pós-apocalíptico que se desenvolve uma história de vingança, desespero e esperança, enquanto Deacon e Boozer tentam encontrar um rumo e enfrentar os inúmeros perigos que os rodeiam.
Um mundo onde tudo quer matar-te
Contrariamente ao que o tema sugere, Days Gone não é um simples jogo de zombies. Os chamados Freakers são humanos infetados — seres irracionais, violentos, que atacam tudo o que se move, especialmente em grupo. As hordas, compostas por dezenas ou centenas de Freakers, são momentos verdadeiramente intensos onde fugir é, muitas vezes, a única opção sensata.
Mas o perigo não vem apenas dos infetados. Os Rippers — fanáticos que veneram os Freakers — e grupos de saqueadores humanos tornam cada zona do mapa imprevisível. E como se não bastasse, o jogador pode ainda ser atacado por lobos ou ursos, obrigando a uma vigilância constante.
A sobrevivência é o centro da jogabilidade
Um dos aspetos mais marcantes de Days Gone é a sua ênfase na sobrevivência. Munições são escassas, o combate exige planeamento, e até a mota de Deacon consome combustível e precisa de manutenção regular. No início, estas mecânicas podem parecer frustrantes — especialmente ao ficarmos sem gasolina no meio de um território hostil — mas rapidamente se tornam parte do charme do jogo.
A progressão obriga a jogar com cuidado: cada bala conta, cada abordagem deve ser pensada, e muitas vezes a melhor arma é mesmo a furtividade. A survival vision ajuda a destacar inimigos e recursos no cenário, promovendo uma abordagem tática a cada confronto.
A mota: companheira e ferramenta essencial
Mais do que um simples meio de transporte, a mota é uma extensão do próprio Deacon. Ao longo do jogo é possível fazer melhorias na resistência, capacidade do depósito, velocidade e até estética. A mota serve também como ponto de gravação e está no centro de várias mecânicas estratégicas, como o posicionamento para fugas rápidas ou a gestão de recursos.
Ainda assim, é difícil ignorar a limitação inicial do depósito, que só permite percorrer cerca de 2 km — algo que, com sorte, poderá ser melhorado. Esta gestão de recursos e confrontos elevam a experiência de sobrevivência a um nível superior.
Um mundo vivo e dinâmico
Visualmente, Days Gone Remastered brilha na PS5 e na PS5 Pro. As melhorias gráficas são visíveis: maior distância de desenho, melhor qualidade de sombras e iluminação, áudio 3D com o Tempest Engine e tempos de carregamento quase inexistentes. A nova versão oferece ainda suporte ao DualSense, aproveitando os gatilhos adaptativos e o feedback háptico para uma experiência mais imersiva — seja ao acelerar na lama ou ao disparar uma arma.
O motor de jogo inclui ainda um sistema de clima dinâmico e ciclos dia/noite que não são meramente estéticos: à noite surgem mais Freakers, na neve tornam-se mais resistentes e, com chuva, o jogador pode mover-se com mais ruído sem ser detetado. Um detalhe técnico que enriquece a imersão, apesar de algumas transições climáticas parecerem ainda algo bruscas.
Conteúdo adicional e modos novos
Days Gone Remastered não se limita a polir o original — adiciona novos modos e desafios:
- Horde Assault: modo arcade de sobrevivência onde enfrentamos ondas crescentes de inimigos, com recompensas exclusivas e personagens inéditas.
- Permadeath Mode: um desafio brutal onde a morte significa recomeçar do zero (ou do início do segundo ato, consoante a configuração).
- Speedrun Mode: desafia-te a completar a história no menor tempo possível.
- Photo Mode Avançado: inclui novas opções de iluminação, logótipos e controlo da hora do dia.
- Novas funcionalidades de acessibilidade: como modo de alto contraste, velocidade do jogo ajustável e narração de interface.
Além disso, o progresso da versão PS4 pode ser transferido, permitindo retomar a aventura de onde ficou. Caso tenham terminado o jogo na PS4, os troféus transferem-se para a PS5 (incluindo a platina).
RPG e evolução de personagem
Como qualquer bom título de mundo aberto, Days Gone Remastered integra elementos de RPG. Deacon evolui através de pontos de experiência que desbloqueiam novas habilidades, divididas em combate, sobrevivência e mecânica. No entanto, o ritmo desta progressão é algo lento e pode quebrar ligeiramente a sensação de recompensa nas primeiras horas.
As armas também se degradam com o uso, obrigando à sua manutenção — mais um detalhe que reforça a vertente de sobrevivência.
Missões secundárias e fidelidade aos acampamentos
O mundo de Days Gone está recheado de atividades secundárias: desde missões para acampamentos a contratos de recompensa e limpeza de zonas infestadas. Estas tarefas não só expandem a duração do jogo para mais de 30 horas como reforçam a ligação com personagens secundárias e ajudam a desbloquear armas, upgrades para a mota e novos equipamentos.
Conclusão: vale a pena voltar?
Days Gone Remastered não reinventa a roda — e não precisa. O que oferece é uma versão mais refinada, completa e envolvente de um jogo que, mesmo com as suas falhas, se destaca pelo mundo que constrói, pela atmosfera opressiva e pela ligação emocional que cria entre jogador e protagonista. Visualmente já estava com um excelente aspeto na PS4 e realmente as diferenças visuais podem não ser muito evidentes enquanto jogamos, mas pela densidade adicionada aos ambientes, melhorias de iluminação e desempenho estável, a versão PS5 acaba por ser a experiência definitiva.
Para nós, será sempre um jogo subvalorizado que deve ser jogado por todos, seja esta versão ou a versão PS4.
Apesar de não atingir o patamar de excelência de outros exclusivos PlayStation, Days Gone merece ser redescoberto. A sua remasterização é uma oportunidade de ouro para quem nunca o jogou e um convite para os fãs hardcore voltarem à estrada — agora com tudo afinado para uma nova geração.
Mantém-se também viva a esperança de vermos um dia Days Gone 2, um pedido que os fãs cada vez mais fazem, mas que parece difícil de se concretizar