Cronos: The New Dawn – Análise

Release Date
5 Setembro, 2025
Estúdio
Bloober Team
Género
Terror na 3ª pessoa
Plataformas
PS5, PC, XSX e Switch 2

Cronos: The New Dawn representa um marco importante na trajetória da Bloober Team. Ao longo dos anos, o estúdio construiu um portefólio variado, explorando diferentes abordagens do horror e do suspense. Com títulos como o remake de Silent Hill 2, a Bloober Team demonstrou a sua capacidade de respeitar obras icónicas e, ao mesmo tempo, imprimir a sua visão, conquistando tanto novos fãs como reconhecimento dentro do género. Será que com Cronos: The New Dawn conseguiram atingir algo original?

A história não é o ponto mais forte

O jogo coloca o jogador no papel de uma viajante, uma agente capaz de atravessar fissuras temporais, com a missão de impedir a extinção da humanidade causada por um evento devastador chamado “The Change”.

A narrativa inicial é intrigante: acordar após a queda de um colega, assumir a sua missão e começar a desvendar os mistérios de uma humanidade quase extinta cria uma sensação imediata de urgência. A ideia de viajar no tempo para recolher pistas e tentar salvar o mundo é, em si, bastante promissora.

No entanto, apesar do início forte em termos de narrativa, a história começa a perder força no segmento final do jogo. O enredo, que prometia grandes reviravoltas e mistérios complexos, torna-se mais confuso e centrado em dramas humanos pouco convincentes. A protagonista mantém um tom robótico na entrega de diálogos, algo que se repete ao longo das várias horas de jogo (cerca de 14 horas), tornando difícil conectar-se emocionalmente com a personagem. Mesmo os personagens secundários sofrem do mesmo problema, e a tentativa de humanizar a protagonista nos momentos finais não é suficiente para compensar a monotonia do seu desempenho vocal.

Apesar disso, a narrativa inicial funciona como um bom catalisador para a exploração e combate, incentivando o jogador a continuar, mesmo que a história final não cumpra totalmente o seu potencial. Para muitos, o encanto de Cronos: The New Dawn não estará na história, mas sim na experiência de jogar.

Este continua a ser um “Calcanhar de Aquiles” da Bloober que claramente esforçou-se na narrativa, mas continua uns furos abaixo do esperado, estando os seus pontos fortes melhor reflectidos no que aí vem.

Ambientes com uma excelente atmosfera

O jogo decorre numa Polónia pós-apocalíptica, devastada pelo surto da praga. O mundo de Cronos é visualmente impressionante: locais como estações de comboio, fábricas de aço, hospitais e outros locais são retratados com um nível de detalhe que torna impossível não se perder na exploração. A arquitetura brutalista soviética, corroída por matéria orgânica e mutações, cria ambientes que são simultaneamente belos e perturbadores.

Além disso, há elementos de exploração vertical, com equipamentos que permitem atravessar áreas em gravidade zero. Apesar de não oferecerem puzzles complexos, estes momentos dão um toque cinematográfico às fases, evocando a sensação de algo maior, semelhante à atmosfera de Dead Space.

O jogo inclui puzzles mais temáticos e funcionais, especialmente aqueles que utilizam a “sword gun”, a nossa primeira arma. Com ela, o jogador pode ativar esferas que movem partes do ambiente, reconstituir barris ou manipular detritos temporais para abrir caminhos, integrando exploração e combate de forma inteligente. Estes puzzles funcionam bem dentro do universo do jogo e adicionam variedade à jogabilidade.

O design de níveis é um dos grandes trunfos de Cronos. Cada área é meticulosamente planeada, com atalhos desbloqueáveis, caminhos secretos e backtracking recompensador. Mesmo sem mapa, é possível memorizar os espaços, tornando a exploração gratificante e recompensadora. Os jogadores são incentivados a revisitar áreas, porque algumas portas só são desbloqueadas mais tarde no decorrer do jogo.

Para além disso, quem não explorar cada canto irá sofrer com a escassez de munições e vida. A sobrevivência é levada ao limite, cada bala conta e cada vez que usamos um item de vida ficamos com aquela sensação de “oh não, menos um e agora…”.

É aqui que entra o combate e sobrevivência

O núcleo do jogo é, sem dúvida, o combate de ação survival horror, exigente e recompensador. A jogabilidade combina a tensão de Resident Evil 2 com a ação estilizada de Resident Evil 4 e dinâmicas de combate à Dead Space, criando assim um combate que nos é rapidamente reconhecido. A protagonista é lenta, vulnerável e inicialmente limitada no seu arsenal, o que força o jogador a pensar estrategicamente.

O combate em Cronos: The New Dawn é o verdadeiro coração do jogo e combina estratégia, tensão e ação intensa. Uma das mecânicas centrais é a fusão de inimigos: os monstros podem fundir-se com cadáveres para se tornarem mais poderosos, forçando o jogador a estar constantemente atento e a atacar estes alvos em primeiro lugar. Felizmente, essa fusão pode ser interrompida com headshots precisos ou com uma mecânica de incendiar adicionando uma dimensão de “xadrez em tempo real” ao campo de batalha. Além disso, o jogo inspira-se em Dead Space em algumas mecânicas físicas, permitindo que a protagonista use socos, pisadas ou tiros direcionados para derrubar inimigos pelas pernas, controlando o ritmo das lutas e criando momentos de combate satisfatoriamente tácticos.

A gestão de recursos é igualmente crucial: a munição é escassa e o inventário limitado, o que obriga o jogador a tomar decisões estratégicas constantemente, mantendo a tensão característica do género. O ambiente também desempenha um papel ativo nas batalhas, com barris explosivos e escombros temporais que podem ser usados para causar danos em área ou manipular o posicionamento dos inimigos, reforçando a importância de observar e explorar o cenário.

Outro elemento que exige atenção é o carregamento das armas, onde cada disparo carregado demora algum tempo a preparar, obrigando o jogador a posicionar-se com cuidado e a calcular cada tiro para maximizar o impacto. Um tiro falhado ou que não seja dado com charge shot (mecânica em que ficamos a premir uns segundos e só depois sai o tiro) vai resultar num momento de frustração porque sabemos como funciona a escassez de munições.

Com o tempo, a protagonista vai evoluindo através de upgrades que aumentam o arsenal, melhoram a saúde, expandem a capacidade do inventário e desbloqueiam novas habilidades, proporcionando uma curva de aprendizagem gradual e uma sensação crescente de poder. No fim, dominar estas mecânicas e combinar recursos, ambiente e habilidades físicas resulta numa experiência de combate dinâmica, estratégica e muito gratificante.

Mesmo sem agilidade extrema ou habilidades especiais de outros protagonistas famosos de survival horror, a sensação de eficácia no campo de batalha é alta assim que o jogador domina o combate.

Inventário de difícil gestão

Inspirado nas famosas malas de Resident Evil, aqui o inventário é propositadamente restritivo: todos os itens ocupam o mesmo espaço e não há como reorganizá-los. Isso força escolhas estratégicas constantes, como decidir entre levar mais munição ou itens-chave. A escassez de recursos cria tensão, especialmente nas primeiras horas, mas a progressão gradual e o aumento de capacidade tornam a gestão mais confortável e satisfatória ao longo do jogo.

Existem ainda os habituais cofres para guardar recursos em excesso, o que faz com que andemos várias vezes entre diferentes salas a preparar a gestão de inventário.

Unreal Engine 5 alimenta Cronos

Cronos: The New Dawn é visualmente único graças ao estilo artístico que a Bloober entregou. Os ambientes ricos são alimentados por Unreal Engine 5. O jogo aproveita ao máximo a tecnologia para criar ambientes densos, detalhados e visualmente impressionantes. O resultado é um mundo que consegue ser simultaneamente belo e inquietante, com uma sensação constante de decadência e desolação que prende o jogador desde o primeiro momento.

Mas isto não chega sem um senão. Ao jogar na PlayStation 5, reparámos em (muito) ligeiras quebras de frame rate em alguns momentos. Não foi algo que tenha afectado a jogabilidade ou algum confronto em específico, mas realmente estavam presentes, algo que é uma pena nos dias de hoje quando vemos jogos tão bem optimizados e até mais complexos visualmente.

O design de som complementa na perfeição a ambientação. Cada passo, cada ruído metálico, cada sussurro no vento ou miado de um gato escondido contribui para criar tensão constante. Os efeitos sonoros não servem apenas como atmosfera: muitas vezes, indicam a presença de inimigos ou a necessidade de explorar, tornando o áudio uma ferramenta fundamental para a sobrevivência.

Sim, leram bem, gatos. Estes vão ser os nossos companheiros improváveis neste jogo uma vez que há medida que jogamos, vamos encontrando estes amigos de quatro patas que depois de umas festinhas, devolvem-nos o carinho com um item único.

Inimigos originais e com uma mecânica inovadora

Os inimigos de Cronos são variados e agressivos, com comportamento adaptativo, quer isto dizer, que os confrontos não vão ser todos iguais. O sistema de fusão com cadáveres adiciona imprevisibilidade e faz com que cada combate seja um desafio tático. Desde os primeiros minutos, o jogador é testado: falhar em posicionamento ou priorização de alvos resulta rapidamente em morte. Esse design reforça a sensação de vulnerabilidade inicial e recompensa a aprendizagem do combate.

Para além desta variedade de inimigos, temos outra novidade para vocês: não existe escolha de dificuldade. Isto pelo menos na primeira vez que jogam porque terminando a história, desbloqueiam o modo Hard.

Quer isto dizer que o jogo é igual para todos da primeira vez que se jogam e podemos já dizer-vos que as primeiras horas não são muito fáceis. Tal como em jogos do género, até haver melhorias no nosso arsenal, os primeiros confrontos vão provocar suores como nunca.

Os inimigos não são fáceis de derrubar e não basta descarregar o cartucho e seguir caminho. É preciso utilizar os tiros com máxima precisão e acrescentar um soco bem colocado para poupar aquele tiro que não se quer gastar.

Inspirações são bem-vindas

Cronos mostra claramente suas referências: Resident Evil 4 para ação e Dead Space para terror sci-fi e secções anti-gravidade. Embora alguns elementos pareçam “forçados” para evocar estes jogos, a fusão de combate tático, puzzles e manipulação de cadáveres cria uma identidade própria. É uma mistura de ação intensa com survival horror clássico, oferecendo algo único dentro do género, mesmo que a narrativa e a caracterização não atinjam o mesmo nível.

Estamos perante um jogo obrigatório para fãs do género de terror sci-fi e especialmente para aqueles que já terminaram jogos como Dead Space e procuram algo que encha esse espaço no coração; não procurem mais, Cronos The New Dawn é o vosso jogo.

Positivo
Combate profundo, tático e recompensador inspirado em fórmula conhecida.
Gestão de recursos e inventário desafiante, mas satisfatória.
Design de níveis meticuloso, expansivo e convidativo à exploração.
Puzzles integrados à temática de viagem temporal funcionam bem.
A melhorar
Narrativa inconsistente e confusa, especialmente no final.
Falta de opções de dificuldade inicialmente pode ser frustrante para jogadores menos experientes.
8

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