Concord, o mais recente título da Firewalk Studios, chegou ao mercado com a promessa de oferecer uma experiência única no género dos hero shooters.
Com um universo de ficção científica, combate tático em equipa e uma estética visual impressionante, o jogo tentou destacar-se num panorama já dominado por gigantes como Overwatch 2 e Valorant. Este artigo de opinião surge numa altura em que de forma inédita, o ciclo do jogo já chegou ao fim, pelo menos até novas direções.
Um ciclo de vida de apenas duas semanas
No entanto, apesar de alguns pontos fortes, Concord enfrenta uma série de problemas estruturais que o impedem de alcançar o seu potencial, desde o balanceamento das personagens até à falta de uma narrativa envolvente.
A nossa opinião baseia-se no período em que o jogo esteve disponível e é agora publicada, apesar do seu término, para ficar registada a nossa opinião. Com um desejo de que volte um dia com uma nova perspetiva e direção.
Visualmente imersivo e colorido
Um dos maiores destaques de Concord é, sem dúvida, o seu estilo visual. A direção artística é um ponto forte, e os visuais chamam a atenção pelo seu detalhe e pelo brilho futurista que remete a clássicos da ficção científica. O design visual do jogo, que cria uma atmosfera envolvente e esteticamente agradável. Para um hero shooter, este é um componente essencial, ao contribuir para a imersão e a sensação de dinamismo durante os jogos.
A sonoplastia também não fica atrás. Os efeitos sonoros são bem trabalhados e ajudam a criar a tensão e o impacto esperados num jogo de tiros competitivo. Os sons das armas, os efeitos das habilidades e até os pequenos detalhes ambientais ajudam a criar uma experiência auditiva sólida, reforçando a qualidade técnica do título.
Combate fluído mas mal aproveitado
Quando se trata de jogabilidade, Concord apresenta um sistema de combate fluido e otimizado. A fluidez dos tiroteios, oferece uma experiência de gunplay bem-executada, uma aproximação à sensação de jogar Destiny (falhando noutros factores). O combate é intuitivo, e os jogadores rapidamente se sentem em casa enquanto experimentam os diferentes heróis e as suas habilidades.
O jogo oferece 16 personagens jogáveis, chamados de Freegunners, cada um com as suas próprias habilidades e papéis dentro da equipa. A ideia é formar equipas coesas, compostas por tanques, curandeiros, atiradores e suportes, para alcançar os objetivos das partidas. No entanto, aqui começam a surgir os problemas. Embora exista uma boa variedade de personagens, a maioria acaba por cair em esquecimento e desprovida de carisma. Alguns personagens destacam-se pela sua utilidade em combate, mas outros são facilmente ignorados, o que pode afetar a longevidade do jogo em termos de apelo para os jogadores.
Existe um problema muito grande de balanço nas personagens. Certos heróis parecem muito mais poderosos do que outros, criando situações frustrantes em que os jogadores têm poucas hipóteses de virar o jogo se a equipa adversária ganhar uma vantagem inicial. Este balanceamento, aliado à falta de habilidades “ultimates” — como as que se encontram em jogos como Overwatch —, torna difícil recuperar o controlo de uma partida, o que pode desmotivar jogadores em situações competitivas.
Modos de jogo e progressão
No que toca aos modos de jogo, Concord oferece seis opções principais, divididas em três categorias: Pancadaria, Superação e Rivalidade. Estes modos são variações de jogos de equipa focados em eliminar adversários ou capturar objetivos. Existe um esforço de variar os modos de jogo, mas há um problema estrutural em modos de jogo como Superação: os jogadores muitas vezes ignoram os objetivos e focam-se apenas em eliminar os adversários, o que acaba por comprometer a experiência pretendida.
Outro problema significativo é o sistema de matchmaking. O jogo não possui um sistema que automaticamente coloque os jogadores em filas para a próxima partida, forçando-os a voltar ao menu principal e esperar novamente por outra partida. Este fluxo fragmentado de jogo quebra o ritmo com que queremos desempenhar as várias partidas.
Em termos de progressão, Concord também falha em fornecer incentivos adequados para manter os jogadores interessados a longo prazo. Existem recompensas visuais, como as skins para os personagens, mas estas são limitadas a variações de cores pouco interessantes, o que não estimula os jogadores a continuarem a jogar para desbloquear mais conteúdo. Numa era em que jogos como Fortnite e Apex Legends oferecem uma vasta gama de personalizações atrativas, este aspeto coloca Concord em desvantagem.
Narrativa mal introduzida e confusa
A narrativa de Concord é outro ponto fraco. Desde o início, o jogador é inserido numa história confusa, com personagens mal introduzidos e sem motivações claras. É uma constante falta de clareza e envolvimento da narrativa, onde se falha logo na introdução a captura de interesse do jogador. Embora exista um Guia Galáctico no jogo, onde a maioria da história é contada em formato de texto, esta abordagem é descrita como desinteressante e pouco intuitiva. Em comparação com outros jogos do género que conseguem criar mundos ricos e envolventes, Concord não oferece uma narrativa forte que possa complementar a sua jogabilidade.
Como foi jogar Concord no PC
Para além da nossa opinião na PlayStation 5, também dedicámos umas horas a jogar no PC.
“Como jogar Concord se quase não há ninguém para jogar connosco?” Esta questão ressoa enquanto se espera entre 5 a 10 minutos para encontrar jogadores suficientes. Concord mistura elementos de Overwatch, Paladins e Team Fortress 2 — três títulos gratuitos — o que torna ainda mais evidente a expectativa de que o jogo deveria ser free-to-play (F2P).
Fatores como a obrigatoriedade de associar a conta à PSN e aceitar o EULA da Sony, juntamente com o preço de 40€, têm claramente impacto no número de jogadores que adquiriram o título, afetando diretamente o matchmaking.
Com um pico de apenas 300 jogadores dois dias após o lançamento, acabamos por encontrar os mesmos utilizadores repetidamente nas partidas. Em suma, a experiência de jogo é seriamente comprometida devido ao baixo número de jogadores. Atualmente, os servidores estão a ser preenchidos independentemente da região, resultando em muitos jogadores com ligações de baixa qualidade, o que afeta a jogabilidade e torna difícil acertar nos alvos.
A performance de Concord está aquém das expectativas. Durante os testes com uma gráfica AMD Radeon RX 7900 XTX e um processador AMD Ryzen 7 5800X, o jogo atingiu uma média de apenas 110 FPS, mesmo utilizando a tecnologia FSR. Este desempenho é preocupante, especialmente considerando o hardware de ponta utilizado.
Para quem não dispõe de placas gráficas mais recentes, a situação é ainda mais alarmante. A comunidade reporta que muitos jogadores estão a obter entre 15 e 40 FPS, o que é extremamente baixo para um título recém-lançado. Para correr o jogo de forma minimamente satisfatória, é necessário ter pelo menos 30GB de espaço disponível e cumprir os seguintes requisitos mínimos de sistema:
Mínimo
- CPU: Intel Core i7-8700K or AMD Ryzen 7 2700X
- RAM: 8GB DDR4
- GPU: Nvidia GeForce GTX 1660 6GB or AMD Radeon RX 5500 XT
Recomendado
- CPU: Intel Core i7-8700K or AMD Ryzen 7 2700X
- RAM: 16GB DDR4
- GPU: Nvidia GeForce RTX 2070 Super or AMD Radeon RX 5700 XT
Performance
- CPU: Intel Core i7-10700K or AMD Ryzen 7 3700X
- RAM: 16GB DDR4
- GPU: Nvidia GeForce RTX 3080 or AMD Radeon RX 6800 XT
Ultra
- CPU: Intel Core i7-10700K or AMD Ryzen 7 3700X
- RAM: 16GB DDR4
- GPU: Nvidia GeForce RTX 4070 Ti or AMD Radeon RX 7900 XT
Conclusão
Concord é um jogo que, apesar de prometer uma experiência de hero shooter dinâmica e visualmente impressionante, não consegue superar os seus problemas estruturais. A jogabilidade é sólida e os gráficos são um ponto forte, mas o balanceamento das personagens, a narrativa fraca, a falta de progressão interessante e os problemas no design dos modos de jogo prejudicam gravemente a sua longevidade e apelo. A decisão de lançar o jogo como um título pago num mercado saturado por jogos gratuitos bem-sucedidos também colocou Concord numa posição desfavorável, resultando aos dias de hoje, no seu término.
O jogo teria beneficiado de um lançamento gratuito ou através de serviços como o PS Plus, onde poderia ter captado uma base de jogadores mais ampla. A Firewalk Studios tem um caminho árduo pela frente se quiser resgatar o jogo, e embora houvesse um cronograma de atualizações planeado, seria necessário um esforço considerável para corrigir os seus defeitos e atrair uma comunidade dedicada.
Vamos ver o que o futuro reserva a Concord, mas por enquanto, a história não é bonita.