
Blades of Fire é o novo projeto da MercurySteam, estúdio conhecido por títulos como Metroid Dread e Castlevania: Lords of Shadow.
À primeira vista, tudo parece estar alinhado para mais uma aventura memorável: visuais deslumbrantes, um mundo fantástico e um sistema de combate que promete profundidade. Mas a verdade é que, por trás de toda esta beleza, esconde-se uma experiência que testa a paciência até dos jogadores mais dedicados.
Um mundo forjado a sangue e suor
A história de Blades of Fire arranca num cenário sombrio, onde a crueldade da Rainha e do seu exército moldam um mundo decadente. O protagonista é um ferreiro musculado, de passado enigmático, que recebe um martelo lendário – uma das ferramentas responsáveis por forjar o próprio mundo. A partir daí, embarcamos numa viagem que, embora prometedora, depressa se transforma numa maratona extenuante.

Ao longo de dezenas de horas, o jogo apresenta-nos um universo recheado de monstros, cidades em ruínas, fortalezas encantadas e florestas amaldiçoadas. Mas o fascínio inicial da exploração é rapidamente ofuscado por um design de níveis confuso, um mapa pouco funcional e um ciclo de jogabilidade que penaliza constantemente o jogador.
A navegação pelo mundo de Blades of Fire é, sem dúvida, uma das suas maiores fraquezas. O jogo aposta numa estrutura de exploração não linear, mas falha em fornecer indicações claras sobre onde ir ou o que fazer a seguir. O mapa é rudimentar, os objetivos são vagos e a descoberta de novos caminhos é muitas vezes dependente de ações completamente aleatórias – como destruir uma secretária para revelar uma escada.
Esta abordagem podia funcionar se os níveis fossem desenhados com a lógica e mestria de um Dark Souls, mas não é o caso. A orientação espacial raramente faz sentido, e o jogo recorre em excesso a obstáculos frustrantes, zonas com saltos de precisão duvidosa e backtracking desnecessário.
Um sistema de combate profundo…por vezes demasiado
O combate em Blades of Fire é, sem dúvida, ambicioso. Inspirado por Soulslike e outros jogos de ação exigentes, aposta num sistema tático onde cada botão corresponde a um tipo de ataque dirigido a diferentes zonas do corpo do inimigo: cabeça, braços e torso. As fraquezas variam – alguns inimigos são vulneráveis a golpes contundentes, outros a estocadas ou cortes – e o jogo exige que o jogador preste atenção constante ao feedback visual para maximizar a eficácia dos seus ataques.

Em teoria, este sistema é envolvente. Na prática, torna-se rapidamente frustrante, não só pela complexidade excessiva, mas também pelas falhas de colisão, animações que podem ser interrompidas por paredes, e inimigos que ignoram regras que o jogador é forçado a respeitar. É comum ver adversários atacarem através de obstáculos enquanto a nossa arma embate inutilmente em pequenas saliências do cenário.
Forjar o nosso arsenal está no centro da experiência
A mecânica de crafting é central em Blades of Fire. Com o martelo mágico, o jogador pode criar e personalizar uma vasta gama de armas: lanças, espadas, martelos, adagas e mais. A criação exige desbloquear receitas através da exploração e do combate, o que incentiva a experimentar diferentes abordagens. A forja, por si só, é um mini-jogo interessante – uma espécie de quebra-cabeças onde temos de encaixar peças de energia para determinar a durabilidade e o poder das armas.

Contudo, o problema está na durabilidade dessas armas. Todas têm limite de uso e começam a deteriorar-se após poucos combates. É possível afiá-las em tempo real, mas isso reduz ainda mais a sua longevidade. E quando quebram? Voltar à forja. Sempre. É um ciclo que se repete vezes sem conta e que, longe de ser recompensador, esgota a vontade de continuar.
Mesmo com melhorias que surgem após 15 ou 20 horas de jogo – como armas com maior durabilidade ou sistemas de reforja mais eficientes – a sensação de desgaste nunca desaparece por completo. A forja é uma ideia original que se perde na sua própria complexidade e na forma como é implementada.
Um soulslike acessível para todos
Blades of Fire inclui três modos de dificuldade: Difícil (o predefinido), Normal e Fácil. No entanto, mudar para Normal ou Fácil desativa os troféus e conquistas – um detalhe que desincentiva muitos jogadores a optarem por uma experiência mais acessível. Pior ainda, a diferença entre os modos é quase impercetível: as armas continuam a partir rapidamente, os inimigos continuam a causar muito dano, e a frustração mantém-se constante.

O sistema de checkpoints também segue a lógica Soulslike: anéis de ferro espalhados pelo mundo funcionam como pontos de descanso, recuperação e viagem rápida – mas usá-los faz com que todos os inimigos renasçam. Aliado a isto, a ausência de um sistema de progressão mais permissivo resulta numa curva de dificuldade artificial e, muitas vezes, desequilibrada.
Visualmente muito agradável de jogar
Se há um aspeto em que Blades of Fire brilha verdadeiramente é no desempenho técnico. O jogo corre lindamente na PS5, com gráficos vibrantes, texturas detalhadas e efeitos visuais impressionantes. As animações são fluidas, os combates visualmente espetaculares, e os ambientes variam entre ruínas decadentes, florestas encantadas e castelos colossais.
A banda sonora reforça a atmosfera medieval mágica com composições bem integradas, e o voice acting – apesar de competente – sofre com repetição excessiva de linhas, especialmente em momentos prolongados com NPCs. Um exemplo gritante é uma missão com um fantasma medroso que repete os mesmos diálogos incessantemente ao longo de horas.
Para os mais dedicados, pode tornar-se numa experiência única
Existe uma audiência clara para Blades of Fire. Jogadores que valorizam sistemas exigentes, exploração meticulosa e uma experiência que não pede desculpa pela sua dificuldade vão encontrar aqui um desafio digno. Mas para outros – como eu – a experiência transforma-se numa prova de resistência que ultrapassa os limites da diversão.

Há ideias geniais no jogo. A forma como as armas ganham “renome” ao serem usadas e podem depois ser vendidas por mais valor é um toque inteligente. A forja, apesar de frustrante, é original. E a narrativa, ainda que não revolucionária, tem momentos inesperados e personagens memoráveis.
No entanto, todas estas qualidades são constantemente minadas por decisões de design que tornam a experiência exaustiva. A repetição, a penalização constante, a confusão na navegação e a dificuldade artificial tornam o jogo mais uma tarefa do que uma aventura.
Blades of Fire é uma obra tecnicamente competente e artisticamente ambiciosa. Tem visuais soberbos, combate detalhado e um sistema de crafting complexo. Mas também é um jogo que exige demasiado, recompensa pouco e confunde com frequência. Para os fãs mais hardcore de Soulslikes, pode ser uma gema escondida. Para todos os outros, é uma bela forja de frustração.