Poucas séries conseguem traduzir o caos e a escala da guerra moderna como Battlefield. Desde o início dos anos 2000, a franquia da DICE tem sido sinónimo de combates épicos, destruição em larga escala e trabalho de equipa coordenado — um verdadeiro espetáculo interativo que fez história nos shooters multiplayer. No entanto, nos últimos anos, a série perdeu-se. Battlefield V e, sobretudo, Battlefield 2042 deixaram uma ferida aberta entre os fãs. Bugs, mudanças de direção e uma identidade confusa fizeram muitos questionar se o estúdio iria conseguir voltar aos eixos.
Battlefield 6 chega precisamente com essa missão: reconquistar a confiança perdida e restaurar o ADN que sempre definiu a saga.
E a boa notícia é que o consegue. Este novo capítulo é um regresso às origens — não um passo atrás, mas uma redefinição moderna daquilo que a série faz de melhor. A campanha volta a marcar presença, oferecendo um fio condutor narrativo, mas é no modo multijogador que o jogo brilha e mostra porque é que Battlefield continua a ser o rei das batalhas em larga escala.
Desde os primeiros minutos sente-se uma filosofia diferente. Há mais peso nas decisões, mais clareza nas classes e, acima de tudo, um equilíbrio que há muito não se via. Battlefield 6 é o renascimento de uma série que parecia ter perdido o rumo — um título que respeita o passado, mas que sabe olhar em frente.
Campanha single-player — Uma boa intenção que não convence
Depois de Battlefield 2042 ter deixado os fãs sem um modo história, a DICE decidiu trazer de volta uma campanha tradicional. Em teoria, é uma ótima notícia. Na prática, a execução deixa sentimentos mistos.
A história de Battlefield 6 acompanha o esquadrão Dagger 13, um grupo de Marine Raiders envolvidos numa conspiração global que envolve a dissolução parcial da NATO e o surgimento de uma força militar privada chamada PAX Armata. É uma narrativa de guerra moderna, com ambições políticas, manipulação de informação e operações de falsa bandeira — temas curiosamente próximos da realidade atual.
O problema é que a campanha raramente consegue agarrar o jogador. Contada através de flashbacks, perde o sentido de urgência e transforma-se num conjunto de missões visuais e mecanicamente impressionantes, mas emocionalmente vazias. Sabemos sempre que os protagonistas vão sobreviver, o que elimina qualquer tensão.
Mesmo assim, há momentos memoráveis. A missão passada nas pirâmides do Egito é visualmente impressionante, e o salto HALO sobre território inimigo é puro espetáculo cinematográfico. O problema é que estes momentos são raros — pequenas ilhas de adrenalina num oceano de missões genéricas e previsíveis.
A inteligência artificial também não ajuda. Inimigos que correm cegamente para a morte ou, de repente, disparam com precisão sobre-humana destroem qualquer sensação de realismo. E os aliados… bem, é melhor não contar muito com eles. No fim, a campanha funciona mais como um tutorial cinematográfico para os sistemas do jogo — útil para aprender as classes, mas longe de ser uma experiência memorável.
Multiplayer — O verdadeiro campo de batalha
É no modo multijogador que Battlefield 6 se impõe e recorda a todos o porquê de a série ter marcado o género. Aqui, a DICE recupera a essência da franquia: guerra total, cooperação tática e caos organizado.
As quatro classes clássicas estão de volta — Assault, Engineer, Support e Recon — e desta vez cumprem o seu papel com clareza e relevância. O equilíbrio entre elas é notável: o Assault lidera as investidas e resiste na linha da frente, o Engineer volta a ser o pesadelo dos veículos, o Support garante munições e vida à equipa, e o Recon fornece inteligência e marca alvos estratégicos. É um regresso à dinâmica que sempre definiu Battlefield, onde a vitória depende de todos cumprirem o seu papel.
O sistema de armas e equipamentos também recebeu uma atenção exemplar. Cada categoria de armamento tem uma identidade clara — rifles versáteis, SMGs letais em curta distância, snipers poderosos, mas exigentes, e explosivos com impacto real no campo de batalha. O gunfeel está soberbo: o som, o recuo e a resposta das armas oferecem uma fisicalidade e intensidade que remetem diretamente a Battlefield 4, o ponto alto da série nesse aspeto.
O modo Conquest regressa com a grandiosidade que o caracteriza, mas agora mais fluido e reativo. Já Breakthrough (ou Escalada, na tradução portuguesa) amplia o conceito, com um maior número de bandeiras e progressão dinâmica adaptada ao tempo de jogo. Há também modos menores, perfeitos para quem prefere confrontos mais diretos, sem perder a sensação de guerra em larga escala.
Cada mapa é um espetáculo de design. Mirak Valley, em particular, mistura vilas, trincheiras e zonas industriais num layout que incentiva a cooperação entre infantaria e veículos. É o tipo de mapa que só Battlefield sabe criar — onde cada bandeira conquistada é um pequeno drama e cada vitória de equipa parece um feito coletivo.
Destruição, ritmo e equilíbrio
A destruição volta a ser um elemento central — e não apenas decorativo. Cada explosão pode mudar o curso de uma batalha: derrubar um edifício cria novas rotas, destruir coberturas inimigas abre espaço para um avanço coordenado. É este dinamismo que torna cada partida diferente.
O ritmo de jogo é outro destaque. As batalhas são caóticas, mas nunca descontroladas. A DICE conseguiu aquele equilíbrio raro entre intensidade e estratégia — há espaço tanto para o improviso como para o planeamento. O Time to Kill está bem ajustado, oferecendo um bom equilíbrio entre realismo e diversão.
Mesmo assim, há pequenos ajustes necessários. Alguns veículos parecem mais frágeis do que deviam, e certos mapas — como Manhattan Bridge — revelam desequilíbrios evidentes a favor de uma das equipas. Nada que não possa ser corrigido com atualizações, mas que, por agora, podem causar frustração ocasional.
Técnica e performance — Guerra a 120fps
Tecnicamente, Battlefield 6 é o lançamento mais estável da série em anos. Na versão da PlayStation 5 Pro com desempenho exemplar. O modo performance a 120fps é uma autêntica benção para quem procura fluidez máxima. É certo que alguns cenários da campanha apresentam textures pop-in e elementos visuais datados, mas o foco aqui é a estabilidade.

O áudio é outro ponto altíssimo. A sonoplastia está de nível cinematográfico — explosões ensurdecedoras, tiros que ecoam pelas montanhas, motores a rugir ao longe — e tudo com um realismo impressionante graças ao áudio 3D. É um jogo que não apenas se vê, ouve-se.
Visualmente, Battlefield 6 não tenta ser o mais bonito, mas sim o mais autêntico. A paleta é crua e realista, as partículas e a iluminação volumétrica criam um ambiente denso e credível, e os uniformes e veículos parecem ter peso e história. É um visual coerente com a proposta de guerra moderna que o jogo quer representar.
Portal e o futuro da série
Um dos grandes trunfos de Battlefield 6 é o Modo Portal, uma ferramenta criativa onde os jogadores podem montar as suas próprias experiências, definir regras, alterar objetivos e até recriar mapas clássicos. É uma verdadeira sandbox militar, cheia de potencial para a comunidade.

Além disso, a EA e a DICE já confirmaram planos ambiciosos de suporte pós-lançamento, com temporadas regulares, novos mapas, armas e até um modo Battle Royale gratuito em desenvolvimento. A promessa é clara: este Battlefield veio para ficar.
Battlefield Redsec — O novo campo de batalha da EA
Se Battlefield 6 já era uma experiência completa, com campanha e multijogador robustos, a Electronic Arts decidiu aumentar a aposta com um modo totalmente novo: Battlefield Redsec. Trata-se de um battle royale gratuito, integrado no próprio Battlefield 6, que promete redefinir a forma como o género é interpretado dentro do universo da série.
Disponível desde o lançamento, Redsec coloca até 100 jogadores em confronto direto num mapa colossal e dinâmico, onde a destruição volta a ser uma das grandes protagonistas. Tal como no jogo base, o ambiente reage de forma realista às explosões, tiros e movimentações dos veículos, fazendo com que cada partida se transforme num campo de batalha único e imprevisível.
Mas ao contrário de outros battle royales, Redsec não quer ser apenas “mais um”. A EA e a Ripple Effect Studios, co-desenvolvedora do modo, reforçaram que o objetivo é criar uma experiência que mantenha o ADN de Battlefield: combate em larga escala, destruição autêntica e trabalho de equipa.
Uma das diferenças mais marcantes está na própria forma como o mapa se fecha. Em vez do clássico círculo de gás ou tempestade, Redsec apresenta um gigantesco anel de fogo que avança gradualmente pelo terreno, incinerando tudo e todos os que ficam para trás. É uma ideia simples, mas extremamente eficaz em criar tensão — ninguém quer ser apanhado pelas chamas enquanto tenta chegar à próxima zona segura.
Os veículos voltam a ter um papel central, tal como no multijogador tradicional. São mais do que simples meios de transporte — funcionam como armas de poder, decisivas para virar o rumo de um combate. Tanques, helicópteros e jipes blindados estão disponíveis, mas o seu uso requer coordenação, comunicação e timing. A destruição que provocam é impressionante, tanto visualmente como em impacto tático.
Além do modo principal de 100 jogadores, Battlefield Redsec inclui ainda o Gauntlet, um modo alternativo para 32 jogadores, focado em combates por esquadrões, ideal para quem quer uma experiência mais contida, próxima do espírito clássico de Battlefield. Aqui, a ação é mais direta e os confrontos mais rápidos, mantendo o equilíbrio entre o caos e a estratégia que caracteriza a série.

Apesar de ser gratuito, Redsec partilha o mesmo nível de qualidade técnica do jogo principal — texturas detalhadas, iluminação dinâmica e som tridimensional com o mesmo impacto de guerra total. A fluidez é exemplar, com um desempenho sólido mesmo nas situações mais intensas, e o sistema de progressão é interligado ao do Battlefield 6, permitindo que as recompensas e personalizações se mantenham entre modos.
Conclusão — Um regresso à forma
Battlefield 6 é o regresso que os fãs esperavam há anos. A campanha cumpre o básico, mas é o multiplayer que rouba o protagonismo. As batalhas são intensas, a destruição voltou a ter impacto e o sistema de classes devolve ao jogo o espírito cooperativo que se tinha perdido.
Apesar de pequenos desequilíbrios e de uma IA que precisa de melhorias, a base está sólida. Há equilíbrio, fluidez e identidade — três elementos que definem o melhor de Battlefield.
Depois de anos de incerteza, a DICE finalmente reencontrou o rumo. Battlefield 6 é o melhor capítulo desde Battlefield 4, um jogo que volta a fazer-nos sentir o peso da guerra, a urgência da cooperação e a adrenalina de uma vitória conquistada à custa de trabalho em equipa.
Prepara o teu esquadrão. O campo de batalha está de volta — e nunca foi tão intenso.




